terça-feira, 16 de outubro de 2012

Noite estrelada

A Noite Estrelada ( De Sterrennacht, 1889), Vincent Van Gogh.

Confesso que, eventualmente, como nesta noite de terça-feira, clima ameno, estrelada, sem nuvens, brisa suave, sinto-me como se quisesse estar em qualquer lugar menos onde estou, ser outra pessoa que não eu mesmo, sentir algo que não sinto, não sentir o que sinto, querer algo diferente do que normalmente quero, não querer o que normalmente acho que quero. Às vezes queria voltar a acreditar que as nuvens são de algodão.

Confesso que está escuro lá fora. Os passarinhos que construiram seus ninhos bem no alto do meu pé-de-goiaba ainda dormem. E estou com aquela velha espécie de premonição mas, infelizmente, com o torpor do sono da madrugada que vem chegando, se torna difícil me lembrar do que se trata.

Confesso que é nestas horas mais tranquilas da madrugada, quando a noite ainda não se foi e o dia ainda não chegou que sempre me encontro comigo mesmo. É nestas horas mais frias e escuras que os meus demônios interiores se acalmam, deixando espaço para o eterno adolescente que mora dentro de mim faça seus planos, sonhe, planeje os dias que tem pela frente, tomando um chocolate quente, lendo livros cheios de palavras compridas e sem figurinhas, ouvindo musicas, brincando.

Confesso que eu acredito em Destino. Não naquele Destino que dita como vai ser a minha vida, mas naquele que dá a certeza de que certas coisas DEVEM acontecer, de um jeito ou de outro, mais cedo ou mais tarde. Mas que vai acontecer, isso vai, e não tem como fugir. Quero dizer, algumas pessoas nós TEMOS que conhecer. Algumas coisas nós PRECISAMOS fazer. Decisões a serem tomadas, erros a serem cometidos, brigas a serem travadas.

O Destino não se encarrega de realizar tudo isso, ele apenas nos coloca diante de todos os mil e um caminhos que nos levarão até lá. Penso que a gente já vem encarregado de aprender alguma coisa nessa vida. Aprender ou ensinar; a gente tem que dar tempo para as situações e pessoas, pra entender o motivo de estarem ali, na nossa vida. Não é que eu seja adepto do "deixa rolar", acho que a gente tem que fazer acontecer se está afim de alguma coisa - ou não. Mas em certos momentos, a gente tem que ser mais observador. Ter paciência (e um pouco de bom senso) pra perceber e entender que "se tiver que ser, vai ser", mesmo que a gente nem queira mais, quando um dia der certo.